Saturday, April 29, 2006

Virtua Campinas: Como Não Administrar Recursos

Sendo uma pessoa técnica, tenho vários conhecidos trabalhando em empresas no ramo de tecnologia e serviços técnicos. Um destes conhecidos, que muito prezo, me contou uma história sobre o Virtua Campinas que me deixou com os cabelos (os poucos que ainda guardo no couro cabeludo) em pé. Esse relato segue. Disse ele que, ainda neste mês, andou conversando com um dos responsáveis pelos serviços do sistema de Internet Banda Larga Virtua, pólo Campinas. Entre um assunto e outro, veio à tona a questão do tráfego P2P como BitTorrent, e-Donkey  2000, Gnutella 1 e 2 e correlatos. Segundo o responsável, esse tipo de tráfego muitas vezes entope a largura de banda de vários HUBs que compõe a rede em Campinas e, nestas condições, ele citou algumas das "ações corretivas" que ele tem tomado. Entre elas:
  • Diminuição da velocidade geral do tráfego Internet do cliente que foi selecionado pelos programas de detecção automatizada. Trata-se de uma lista cinza onde, quem está incluso, tem sua largura de banda limitada por suposto abuso do serviço.
  • Em casos "mais graves", coloca-se o cliente em uma lista negra e derruba-se mesmo o serviço de Internet por 24 ou 48 horas. Eventuais ligações ao sistema de suporte técnico irão informar o cliente que há algum problema em seu HUB ou outra baboseira técnica qualquer.
Antes de fazer uma análise sobre o tema, gostaria de esclarecer algumas questões:
  1. Este colega ouviu a história em primeira mão. Tenho confiança que a minha fonte é segura, mas não sei avaliar a confiança da fonte de minha fonte.
  2. A informação acima é não oficial e pode ser falsa, porém acredito que alguma verdade existe nisso.
Agora sim, meus comentários:

Nós clientes de qualquer serviço de provimento de banda larga contratamos duas coisas em nossos planos: largura de banda e, na maioria dos casos, franquia de tráfego. A largura de banda é a velocidade de nossas conexões (300kbps, 600kbps, 1Mbps, 2Mbps e assim por diante), dela depende a taxa de download que observamos ao carregar uma página ou fazer o download de arquivos. Quanto maior a largura de banda, maior será a taxa de download desde que não haja gargalos de banda na conexão entre sua máquina (cliente) e a fonte do download (o servidor).

Já a franquia é um assunto mais delicado, de ocorrência mais recente nos contratos de provimento, e que nem sempre é reforçada pelo provedor do serviço. Ela é um limite superior para o total de dados trafegados pela conexão de banda larga contratada (download + upload). Normalmente ela é medida em GB (Giga Bytes), e quando ela é extrapolada, uma de duas coisas podem ocorrer:
  1. Cobra-se uma taxa adicional por MB (Mega Byte, 1024 MB = 1GB) que excedeu a franquia.
  2. Limita-se a largura de banda para uma valor bem abaixo do contratado, como 150kbps ou 300kbps, até virar o período de cobrança, onde voltam a valer a largura de banda original e a franquia consumida é zerada.
O Virtua adota a segunda opção quando a franquia é excedida, pelo menos em tese. A limitação de largura de banda disponível aos clientes é uma prática simples, conhecida e amplamente empregada por todos os serviços profissionais de provimento de Internet. Já o controle de uso da franquia é mais complexo e difícil de manter. Em particular, o cliente precisa ser notificado quando seu uso ultrapassou a franquia contratada. Isso é especialmente importante quando o MB adicional é tarifado. Este é o calcanhar de aquiles dos provedores de banda larga, como avisar o cliente desta situação excepcional. E-mails podem não chegar devido a erros em servidores de e-mail, filtragem acidental por filtros anti-spam entre outros problemas, ligações telefônicas (para celulares ou fixos) são caros e exigem contratação de pessoal adicional, mensagens SMS dependem do cliente ter um aparelho celular funcionando e ter algum conhecimento técnico para ler as mensagens. Enfim, não há solução de notificação garantida.

Até aí, eu entendo as dificuldades, mas o que não está escrito em lugar algum do meu contrato é que estou sujeito a ter um boicote de minha conexão por até 48 horas porque algum software que não foi escrito por mim tenha me identificado como um cliente que abusa de sua conexão. Este tipo de atitude é, em minha opinião, fraudulenta e merecedora de multas e demais sanções por parte da Anatel. O problema é que tal comportamento é difícil de identificar e provar. Sendo assim, peço que fiquem atentos ao desempenho de sua conexão de banda larga, encontrando problemas, ligue imediatamente para o suporte técnico e documente toda a comunicação com eles. Peça sempre o desconto na mensalidade proporcional aos dias sem acesso. Havendo excesso de problemas num determinado mês, submeta uma reclamação à Anatel.

Finalmente, gostaria de dizer que todas essas ações preventiva e "corretivas" dos provedores de acesso rápido nascem de um mesmo mal, a falta de investimentos em infra-estrutura. Não adianta vender centenas de conexões da ordem de Mbps cada se a infra-estrutura de rede não dá conta do recado.

Também não estou pedindo que todos os provedores superdimensionem a rede, pois conheço muitas pessoas que usam a Internet só para ler e-mails, navegar na web e baixar um o outro arquivo de tempos em tempos.

é preciso sim que os provedores de banda larga contratem profissionais que sejam especialistas não só na tecnologia de transmissão de dados mas também na economia que existe por trás. Modelos probabilísticos de oferta vs. demanda e vendas vs. capacidade precisam ser rodados antes que qualquer decisão de investimento em infra-estrutura possam ser feitos. A rede precisa ser constantemente monitorada de forma a identificar mudanças no perfil de acesso dos clientes e saturações locais causadas por crescimento desordenado nas vendas de contratos. Resumindo, chega de amadorismo na administração de recursos!

Wednesday, April 26, 2006

Mais um Boato Virtual na Grande Rede

Recebi hoje de manhã dois e-mails de colegas do Orkut avisando sobre a mudança de política do site Orkut de se tornar um site pago ao invés de gratuito como ele o é desde sua concepção. Para quem está curioso, a íntegra do boato segue:
FOI CONFIRMADO ONTEM PELA REDE GLOBO QUE O ORKUT VAI PASSAR A SER PAGO. EXATAMENTE, O ORKUT VAI SER PAGO. A úNICA MANEIRA DE ISSO NAO ACONTECER EH ATUALIZANDO SEU PERFIL ENVIANDO ESSA MENSAGEM PARA O MáXIMO DE PESSOAS QUE PUDER. APóS ENVIAR PARA UMAS 15 OU 20 PESSOAS (O NúMERO VARIA DE ACORDO COM O NúMERO DE AMIGOS) APERTE A TECLA 'F5'. O SEU PROFILE INTAO ESTARA ATUALIZADO PARA A VERSAO PLUS DO ORKUT (VERSAO ESTA QUE NAO EH PAGA). MAS ATENçAO, QUEM NAO ATUALIZAR SEU ORKUT, OU NAO INSERIR UMA CONTA PARA PAGAMENTO, TERA SEU PROFILE CANCELADO APARTIR DO INICIO DO MES QUE VEM. ATUALIZE SEU ORKUT O MAIS RáPIDO POSSIVEL, ASSIM COMO EU.

Como a maioria de vocês deve ter percebido, trata-se de um boato, uma fraude (em inglês, hoax). Acontecimentos como esse são tão cíclicos na Internet que em 2003 fiz um artigo para a Revista PCs sobre isso chamado "O Poder da Palavra Escrita". A leitura é altamente recomendada para quem caiu neste conto. No artigo eu explico como enxergar os elementos indicadores de um boato.

Adicionalmente, agrupei um conjunto de links sobre o tema deste boato em particular onde ele é ora desmentido, ora discutido. Estes links seguem:

http://www.clubedohardware.com.br/artigos/1048
http://wnews.uol.com.br/site/noticias/materia.php?id_secao=4&id_conteudo=1231
http://www.portalcanoas.net/artigos.asp?id=1374
http://netocury.com/?p=816

Saturday, April 1, 2006

O Custo de se Manter no Topo

A versão online do New York Times publicou uma interessante matéria sobre como as práticas passadas da Microsoft (MS) pesam financeiramente para a empresa hoje ao lançar cada nova versão do seu sistema operacional, o Windows. Como muitos devem saber, a versão atual do Windows se chama Windows XP. Esta versão já está fazendo 5 anos e seu sucessor, o Windows Vista, previsto inicialmente para o segundo semestre de 2006, está com nova data de lançamento marcada para janeiro de 2007. Nunca houve uma demora tão grande entre duas versões consecutivas do Windows para o Desktop (clique aqui para ver uma imagem com um diagrama de lançamentos do Windows por ano).

No artigo, os autores lembram que em 1998 o governo americano declarou que sua ação antitruste contra a MS era também uma ação que defendia a inovação. A tese era que ao embutir mais e mais recursos nativos no sistema operacional, a MS acabava com a competição e impedia novos desenvolvimentos na área. Este caso acabou encerrado com um acordo do governo com a empresa, mas hoje a MS colhe a complexidade que semeou no passado. O Windows está tão complexo, cheio de bugs e problemas de segurança que está ficando muito caro e demorado lançar novas versões de seu sistema operacional. Ao invés de inovar com novos lançamentos, a MS precisa lançar volumosos pacotes de atualização chamados Service Packs. O Windows 2000 tem 4 e o Windows XP já tem 2.

Desde o lançamento do Windows XP, a Apple já lançou 4 novas versões de seu sistema operacional, lançando diversos recursos previstos para o Windows Vista como um sistema de buscas no desktop (ferramenta estilo Google Desktop), componentes gráficos 3D avançados, mini-aplicativos especializados como leitor de notícias, previsão de tempo e etc. O problema não é que os engenheiros de software e programadores da MS sejam inferiores aos da concorrência, longe disso. Uma frase escrita pelo CTO (Chief Technical Officer) Ray Ozzie em um memorando interno resume a questão:
"A complexidade mata. Ela suga a vitalidade de nossos desenvolvedores, faz com que produtos sejam difíceis de planejar, construir e testar, ela insere desafios na questão da segurança e causa frustrações ao usuário final e ao administrador do sistema."

Entre as razões citadas pelo artigo da imensa complexidade do sistema operacional Windows, destacam-se:
  • A inserção desordenada de funcionalidades normalmente supridas por softwares de terceiros no sistema operacional como forma de aniquilar a concorrência.
  • A preocupação excessiva de compatibilidade com softwares e hardwares do passado.
Se por um lado a compatibilidade é algo que mantém sua base de usuários fiel, a complexidade de um sistema com tais recursos exige ciclos de desenvolvimento cada vez mais longos e abre a porta para problemas de segurança de difícil solução. Se a MS não acertar a mão ao endereçar estas questões, ela pode perder espaço no mercado de sistemas operacionais por simplesmente não conseguir entregar o produto ao mercado na velocidade com que ele exige.